25 de agosto de 2015

"Como Você Está?"

A maternidade me fez aproximar de pessoas muitos especiais desde a gestação. Tenho um grupo de amigas muito queridas que estão passando mais ou menos pela mesma fase, umas há um pouco mais de tempo, outras no mesmo timing que eu. Costumamos conversar muito sobre nossos filhos e o que gira em todo deles, falamos também algumas bobagens e vez ou outra falamos de nós mesmas. Ai é que tá: falamos muito pouco de nós mesmas. Não falamos sobre o que estamos sentindo lá no fundo. Pouco desabafamos além das "dores e delícias" de se ter um bebê. E isso me fez refletir um pouco sobre o assunto.

Quando você fica grávida, as pessoas perguntam "Como você está?" e leia-se "Como você está em relação ao bebê?". Depois que o bebê nasce, as pessoas perguntam: "Como vocês estão?" e leia-se "Como está o bebê e como você está em relação a ele?". Ninguém te pergunta como você e somente você está, afinal, você naturalmente não é tão interessante quando um corpinho gordinho, ou bochechas rosadas, ou sorrisos banguelas, rs. Tudo bem que nem todo mundo tem o real interesse em saber como o outro está (sabemos disso), trata-se apenas de uma pergunta em um papo jocoso. Só que quando se vira mãe mesmo aqueles que tem algum interesse sobre sua vida deixam de perguntar sobre você e talvez isso seja o que mais me chama atenção. A gente sempre espera (tipo cachorro em frente a porta, esperando o dono voltar) por um pouquinho de atenção e carinho, contudo, a gente entende que não vai rolar, pois não somos o foco.

Mas, ok, não estou aqui para questionar sobre o que os outros pensam ou deixam de pensar sobre mim e sim sobre o que EU passei a pensar ou deixar de pensar sobre mim desde que essa jornada começou pra valer (ou seja, quando o Antonio nasceu). Quando eu me pergunto "Como estou?" muitas vezes eu não sei responder, mas deduzo estar bem, por lembrar dos pequenos momentos de alegria com o pequeno e sentir um carinho muito especial por ele crescendo a cada dia. Mas e ai?! Como eu estou afinal? Tenho feito como as pessoas: pergunta e resposta sobre ele (meu filho) e não sobre mim. Não me preocupo com a aparência como antes, não ligo se estou bem arrumada ou não; tenho uma preguiça incondicional de me maquiar para sair; esqueço de sair de casa (sim, eu esqueço que eu posso sair de casa para dar uma volta e espairecer vez ou outra); quando tenho tempo livre não penso em outra coisa além de fazer um lanche ou comer alguma coisa e já estou enfrentando as consequências dessa "diversão"; ligo a TV para ter um barulho qualquer em casa ao invés de colocar uma música boa para tocar. Não me sinto mal, desanimada ou coisa assim, mas, gente, é tanta "informação" chegando e tanto hormônio correndo pelo corpo que fica realmente complicado qualquer sinal de motivação, além do estritamente necessário. E o ruim disso tudo: ninguém entende, tudo isso é visto como "mimimi" ou cansaço. Pior ainda: em geral, eu mesma fico dizendo que é bobeira minha, preguiça ou, de novo, cansaço. Quer saber o que é de verdade? Tenha um filho e você também não terá muita facilidade em responder, rs.

Não é o meu caso atual (de verdade, não se preocupe), entretanto sabemos que pelos mesmos sintomas o nome disso é depressão pós-parto. Sei o que é depressão, pois tenho casos muito próximos na família e até já senti coisas que julgo ter sido um princípio dela, mas nunca admiti para mim mesma que já a tive num dado momento da vida. Nunca "quis" (admitir) te-la por saber o quão difícil é conviver com uma pessoa com o problema. Nunca quis ser um problema pra ninguém. Atualmente, vejo casos e mais casos típicos e nítidos de depressão pós-parto sendo negligenciados ou chamados de "cansaço" e isso é bem triste. Trata-se de um assunto MUITO importante, com consequências seríssimas para mãe, filho, família, porém visto como frescura ou "doença de rico". Uma pena que a desinformação e o preconceito ainda paire em torno do assunto, que poucas pessoas o levem a sério.

Enfim, da próxima vez que você estiver comigo ou com qualquer mãe recente (seja grávida, seja com filho pequeno) pergunte como estou ou como ela está, só não espere nenhuma resposta diferente de "Bem! E você?", pois é realmente bem difícil saber como nós estamos diante de tanta mudança nas nossas vidas. Possivelmente, estaremos bem e muito felizes com as gostosuras que nossos pequenos nos proporcionam a cada dia (dentro ou fora da barriga), mas vez ou outra a gente também precisa (e gosta) de um bom cafuné.


Beijos!



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